Aos 50 anos, um amigo encontra Drauzio Varella na rua e solta a frase que serviria de gatilho para uma virada de chave:
“Cinquenta? É aí que começa a decadência do homem.”
Drauzio poderia ter aceitado o rótulo. Em vez disso, fez um pacto consigo mesmo: se conseguisse correr uma maratona, não estaria em decadência. Passadas mais de duas décadas, aos 82 anos, ele já coleciona cerca de “25 ou 26 maratonas”, a cobiçada Six Majors e acaba de ganhar um filme biográfico: “A Vida É Uma Maratona”, documentário que estreou hoje no seu canal do YouTube.
Mais do que um filme sobre corrida, é um filme sobre envelhecimento e longevidade ativa.
E, honestamente, ele nos obriga a repensar algumas certezas:
Ainda faz sentido associar idade a declínio automático?
Até que ponto “perda de capacidades” é destino biológico…
…e até que ponto é falta de oportunidade, cuidado, estímulo e políticas públicas?
No documentário, a maratona aparece como metáfora da vida:
treino longo, disciplina diária, escuta do próprio corpo, aceitação dos limites — como quando Drauzio decide parar no km 30 da maratona de Berlim, já aos 82 anos, por uma dor na perna. Em vez de fracasso, ele lê aquilo como lucidez: “também não está mal correr 30 km aos 82 anos”.
Esse olhar dialoga com algo maior que vai além da trajetória individual:
- A medicina avançou — vivemos mais, com mais recursos para controlar doenças crônicas.
- A tecnologia avançou — de wearables a aplicativos de saúde, temos dados em tempo real sobre sono, passos, frequência cardíaca.
- A ciência do envelhecimento avançou — hoje falamos em envelhecimento ativo, não apenas em “terceira idade”, e discutimos etarismo, autonomia, participação social.
Mas o filme também lembra que longevidade não é só genética nem força de vontade.
É contexto: educação, acesso à saúde, possibilidade de praticar atividade física, trabalho digno, redes de apoio. Drauzio reconhece o privilégio de ter podido estudar quando muitos colegas de infância deixaram a escola para ir para a fábrica — e traduz esse privilégio em responsabilidade de compartilhar conhecimento com quem não teve as mesmas chances.
Enquanto sociedade, ainda tratamos o envelhecimento como sinônimo de retração: desacelerar, “sair de cena”, deixar de aprender. A biografia de Drauzio — médico, comunicador, voluntário em presídios e maratonista aos 82 — confronta essa narrativa de frente.
Talvez a pergunta não seja “quando começa a decadência?”, mas “como podemos criar condições para que mais pessoas envelheçam correndo as suas próprias maratonas?”
Nem todo mundo vai correr 42 km. Mas todos deveriam ter o direito de continuar:
- caminhando com autonomia,
- aprendendo coisas novas,
- tomando decisões sobre a própria vida,
- participando da construção do futuro — e não sendo empurrados para a margem.
Fica o convite: assista a “A Vida É Uma Maratona” no canal de Drauzio Varella no YouTube e pense em que lugar o envelhecimento ocupa nas suas decisões — pessoais, profissionais e de políticas públicas.
Se um senhor de 82 anos segue treinando, criando projetos e abrindo debates sobre saúde e longevidade, talvez o problema não esteja na idade em si, mas nas histórias que insistimos em contar sobre ela.
Serviço do filme
• Título: A Vida É uma Maratona
• Lançamento: 17/11/2025, às 17h (horário de Brasília)
• Onde assistir: canal de Drauzio Varella no YouTube
https://www.youtube.com/user/drdrauziovarella




