Texto publicado originalmente em: https://www.igorzahir.com/um-achado-no-sertao-alagoano/
Piranhas é uma cidadezinha do sertão alagoano fundada em 1887 com pouco mais de 25 mil habitantes, historicamente famosa por ter sido o lugar onde as cabeças de Lampião, Maria Bonita e de seu bando ficaram expostas na escadaria da prefeitura em 1938. Além disso, contam os historiadores, que Dom Pedro II visitou a localidade em 1859 em seu passeio pelo Rio São Francisco e a apelidou de Lapinha do sertão.
A cidade é cheia de histórias e todas elas estão bem impressas em seu conjunto arquitetônico tombado pelo IPHAN, o que garantiu a preservação do seu charme até os dias atuais. Composta por duas parte distintas: Centro Histórico e Nova Piranhas, é guardada por dois mirantes: o secular, com um obelisco que serve de caixa do tempo criada em 1900 e outro com a igrejinha do Senhor do Bomfim, com outra caixa do tempo, criada em 2000 com o mesmo intuito de deixar uma mensagem para o futuro. Ambos os montes são acessíveis por escadas, o primeiro é uma bela e sofrida subida com 365 degraus irregulares e a segunda mais leve (280 degraus) mas irregular do mesmo jeito. Lá de cima um visual de tirar o fôlego do bairro São Francisco, da margem Sergipana do rio, da Cidade encravada no vale e de um por do sol de tirar o fôlego.
Falando em sol, acho que não precisa dizer que o calor da região é sufocante, dias que chegam facilmente a 40 graus, sem nenhum vento para aliviar e, quando ele aparece, você prefere a ausência. O vento é quente! À Noite a temperatura cai para 22 graus e o vento gostoso vindo do Velho Chico alivia bastante e faz perceber o movimento dos moradores: eles só saem de casa à noite!
Piranhas Velha oferece alguns atrativos, bem poucos mas muito interessantes. A estação de trem foi transformada em Museu do Cangaço, Museu do Patrimônio e ainda possui uma torre no meio da praça que abriga um café que só abre a partir das 16 horas (que a recepcionista do museu avisou que abre mesmo, depois de 16:30). O Café é lindo e ponto, dá uma bela vista para os mirantes e é bem agradável quando com as janelas abertas. Mas o liquido café de la não foi uma boa pedida, apenas tinham uma garrafa de café coado trazido pela atendente. Não há expressos ou outros cafés especiais, vá apenas pela experiência de entrar na torre. A praça principal, que já figurou cenas de Bye Bye Brasil, de caca Diegues é uma atração à parte. Você se sente transportado para outro século, com as casinhas de época, coloridas e bem conservadas que abrigam restaurantes, bares, a famosa cachaçaria Altemar Dutra e até um sushi bar (uia que fino!). Da quinta em diante, a pracinha é tomada por mesas e cadeiras organizadas pelas empresas e é montado um palco nas quintas e sábados para apresentações de xaxado, forró pé de serra e outros estilos que prefiro não comentar! Em um a tarde você conhece a cidade inteira e à noite você curte a noite sertaneja (no bom sentido da palavra, por favor).
Os principais atrativos de Piranhas não estão na cidade e sim no seu protagonista: O Rio São Francisco. O Belo Rio que banha mais de 500 cidades e percorre mais de 3000 KM até desaguar no mar entre Sergipe e Alagoas, passa pela cidade e seu caminho oferece as principais delícias piranhenses.
O primeiro passeio que fizemos foi para a Rota do Cangaço (oferecido pela MFTUR) O Catamarã parte da orla de Piranhas e segue, rio abaixo, em direção a Canindé de São Francisco (sua vizinha sergipana na outra margem do rio), próximo à grota de Angicos, local onde o bando de Lampião foi emboscado e assassinado. Existem dois Restaurantes de grande porte nessa região, o Angincos e o Rota do Cangaço, ambos oferecem desde a viagem de catamarã até a visita à grota e alguns atrativos locais como mini parque, toboágua, esquibunda (odeio esse nome), comidinhas e bebidinhas. Os preços não são tão convidativos, mas seguem padrão de lugares turísticos, o catamarã é em torno de 60 reais, mas tem guia a bordo e a viagem é muito gostosa. Existe a possibilidade de viajar de lancha, mas o preço é mais alto e nem sempre há disponibilidade. O Catamarã Rota do Cangaço tem duas saídas: 8:45 e 10:45 e dois retornos: 14h e 16h. O Restaurante possui duas prainhas com proteção para banhistas não se arriscarem nas correntezas do rio.
O segundo e principal passeio da região é a visita aos Cânions do Xingó. Sinceramente não entendo ainda como não é uma das maravilhas construídas pelo homem ainda (sim, é algo que interferimos, não existiam até meados de 1990). O Passeio parte da cidade de Olho água do casado ou de Canindé de são Francisco (logo aptos a barragem do xingó, piranhas fica abaixo dela) pode ser feito por catamarã ou lancha, e sai do Restaurante Karrankas ou do Restaurante Castanho. Ambos possuem estrutura de lazer e oferecem Buffet para quem quiser. Os passeios partem cedo, no Karrankas às 9h subindo o Rio em direção a Paulo Afonso. Durante o trajeto é possível observar a mudança da geografia do local e o quanto os paredões vão subindo. Não consigo imaginar aquele lugar sem água, mas a profundidade média é de 160 metros, quanto mais subimos mais a paisagem muda para paredões de arenito e a vegetação vai ficando mais escassa. Ao chegar na curva do rio, local da antiga Fazenda São José, o catamarã sai do curso do Rio São Francisco e segue para o alagado onde fica a atração principal: O paraíso do Talhado. São paredões imensos de arenito talhado (cortado) submersos nos mais de 160 metros de água verdinha e doce do Velho chico que são de tirar o fôlego, é impossível ficar apático a isso e mais uma vez me pergunto: como raios era esse lugar antes da inundação? Deveria ser inóspito!
Ao chegar no paraíso (literalmente), as empresas de turismos construíram plataformas de atracarem, a que ficamos é o porto de Brogodó, que possui plataforma e duas piscinas dentro do rio, protegidas por redes bem resistentes. Uma com 1,20m de profundidade e a outra não tenho ideia pois estava em pânico e com colete salva-vidas. Além disso, existe uma gruta mais para dentro do cânion que o catamarã não acessa, mas que pode ser vista de barco a remo (pago à parte, mas são os melhores 10 reais da sua vida!!!!). Ao entrar nessa gruta você é transportado para outro planeta, tudo é alaranjado, e quando a luz do sol entra pelas frestas da pedra, batem na água e refletem nas paredes desenhos hipnotizantes. Não é possível descer nessa área, contemple, babe, grave, fotografe, pague de novo, vá de novo!!!! Esse passeio é curto, menos de 10 minutos, mas é muito válido! Após o passeio, o barco volta para a plataforma e você terá 50 minutos nas piscinas da plataforma. A viagem de ida dura 1 hora e a de retorno idem, no total você passará 3 horas subindo e descendo o rio. Vale muito a pena, o preço da viagem é muito válido e a experiência de estar no local é incrivelmente inesquecível!
Ao voltar para o restaurante, oferecem serviço de Buffet à vontade, com o pagamento de 39,90. A comida não é lá essas coisas, preferimos almoçar em Piranhas nova, que está se modernizando e oferecendo algumas opções interessantes de lazer e hospedagem. Falando em hospedagem, me hospedei na redundante Hospedaria Pousada Casa, que fica logo na entrada da cidade velha e próxima a tudo. Valeu muito a pena, o preço é convidativo, o café da manhã delicioso e os proprietários são muito atenciosos, eles lhe recebem na casa deles e lhe abraçam como se fosse da família. Existem outros hotéis mais padronizados como o Pedra do Sino, o Xingo Resort em Canindé e o novo Dunen, na cidade nova mas, se gostar de viver a experiência da cidade, conheça as pousadas e hostes que existem em todas as quadras.
Para quem sai do Recife ou Caruaru, segue pela BR 232, entra na BR 423 em São Caitano e siga até Delmiro Gouveia por essa mesma BR (cuidado com o GPS, ele indica uma pista de barro antes de Delmiro Gouveia, não entre nela, são 26 km de estradas ruins! É cilada Bino!) ao entrar em Delmiro Gouveia, siga pela estrada duplicada até a saída da cidade e você terá acesso à estrada AL 145 e seguira para a AL 220, de Piranhas.
Se você se interessar em esticar o passeio, em Petrolândia, no Lago de Itaparica, atualmente é possível visitar a Igreja do Sagrado coração, alagada pelas obras da hidrelétrica de Paulo Afonso em 1988 ou também a própria Paulo Afonso com suas cachoeiras e ale próximo, em Delmiro Gouveia, o Sítio histórico e Arqueológico e a usina de Angiquinhos, que foi a primeira usina hidrelétrica do local.